Meu anjo da guarda

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Meu anjo da guarda decididamente não tem asas, e por mais estranho que possa
parecer, depende demais de mim.

Isso mesmo, meu anjo da guarda é um anjo as avessas, é um menino carente que não  tem onde morar, vive pelas ruas
próximas onde eu trabalho.

Já tentamos de tudo para ajudar de uma outra forma, mas não conseguimos localizar sua família, e ele não se mostra
interessado em ajudar nesse sentido, o que ele gosta mesmo é de rir quando
recebe um sorvete ou um doce de nossas mãos, e por incrível que possa
parecer, é muito feliz e seu sorriso conquista todos os que estacionam o
carro ali, onde ele toma conta com carinho.

Diz que é o anjo da guarda de
nossos carros, e acreditamos nisso, por isso, todos são generosos e o ajudam
com o que podem: cobertores, colchão, brinquedos e até uma bicicleta, que eu
mesmo comprei e que fez nosso anjinho de pés sujos sorrir a semana inteira
diante do presente inesperado.

Um dia, ao chegar ao estacionamento, bastante chateado pelas brigas
constantes no meu lar e que estavam acabando com meu casamento, estranhei a
ausência do doce sorriso do meu anjinho de pés sujos. Encontrei-o deitado
embaixo da marquise, ardendo em febre agarrado a bicicleta que lhe dei.


Imediatamente, esqueci dos problemas, agarrei-o delicadamente e coloquei-o
no banco traseiro do carro, instalando-o da maneira mais confortável
possível. Levei-o ao pediatra do meu filho, que se assustou um pouco com
aquela sujeira toda.

Percebi aflito o quanto gostava daquele menino, e se algo de ruim
acontecesse com ele, nem sei o que faria. passei a noite toda á cabeceira de
uma cama com ele no soro e monitorado, ele havia contraído uma pneumonia.
Minha esposa veio ao hospital e para meu espanto, segurou nas mãos dele e
chorou durante algum tempo, depois me abraçou e ali ficamos agarrados a fé.

Hoje, 20 anos depois, é a formatura do meu anjo da guarda. Entre essas
recordações, guardo a data em que conseguimos a adoção definitiva dele, e
agora, formando-se em medicina, vai ser anjo da guarda de outros, quem sabe
você, ou algum ente querido que precise de atenção e cuidados do Dr.
Gabriel, ex-anjinho dos pés sujos.

@ Paulo Roberto Gaefke
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